sábado, maio 04, 2002

Hoje os caminhos da literatura me levaram a conhecer Pierre Louys (1870 - 1925), escritor francês fantástico, extremo gozador, que aproveitando-se dos seus vastos conhecimentos da cultura helênica, pregou uma das maiores farsas da história da Literatura, fingiu que seus poemas e textos eram traduções de supostos escritores gregos da era 176 A.C.
Pois bem, culto que era, enganou a todos a ponto de famosos literatos e críticos da época "reconhecerem" os autores que ele supostamente traduzia, um ano antes de sua morte, em 1924, ele se abriu para o mundo para o desespero de muita gente. Depois tentaram minimizá-lo pela "brincadeira", enquadrando-o como um autorzinho qualquer. Mas, fato é, ele foi grande. Dentre muitas obras a personagem Bilitis, a lésbica mais famosa da literatura da época, escandalizou o mundo "decente" de então. Le Chansons de Bilitis ( As Canções de Bilitis), versos extremamentes amorosos e eróticos chocaram os puritanos da época.
A grandeza da obra deve-se ao fato de que, homem que era, interpretar tão convincentemente amores homossexuais femininos, dentro de um contexto da época em que eles teriam acontecido, a época dos deuses da Mitolologia grega. Escreveu também Aphrodite, verdadeira obra de amor e erotismo , desta vez, heterossexual.
Vale a pena ler as Canções de Bilitis, segue uma pequena amostra de sua obra, pesquise mais nos sites da vida...

O PASSADO QUE SOBREVIVE

Deixarei o leito como ela o deixou, desfeito e rasgado,
os lençóis misturados , a fim de que a forma do seu corpo
fique impressa ao lado do meu.

Até amanhã não irei ao banho, não usarei roupas não pentearei os
cabelos de medo de apagar as carícias.

Esta manhã não comerei, nem esta noite, e nos meus lábios não passarei rouge nem pó,
a fim de que seu beijo permaneça.

Deixarei os postigos fechados e não abrirei a porta, de medo que a lembrança vá se
embora com o vento....

OS SEIOS DE MNASIDIKA

Com cuidado, ela abriu com uma mão a túnica, e me ofertou os seios mornos e doces,
como quem oferta um casal de rolinhas vivas.
"Ama-os bastante, disse ela: Eu os amo tanto! São queridos, são crianças.
Cuida deles quando eu estou sozinha. Brinca com eles, dá-me prazer!
"Banho-os com leite. Passo-lhes pó de flores. Meus cabelos finos que os
enxugam são amados por seus pequenos bicos. Acaricios-os me arrepiando. E deitos-os na lã.
"Como nunca terei filhos, sê tu o seu bebê, meu amor,
e já que estão longe de minha boca, beija-os por mim."

Esta é somente uma pequena amostra, tem outras pérolas preciosas,
verdadeiras audácias para a época, sexo oral explícto e insinuado,
o amor carnal em sua plenitude, que existia mas
que ningúem ousava falar disso em público.

A AUSÊNCIA

Ela saiu, está longe, mas eu a vejo, pois tudo está repleto dela neste quarto,
tudo lhe pertence, e eu como o resto.

Este leito ainda tépido em que deixo errar minha boca está amassado na medida
de seu corpo. Nesta almofada macia dormiu sua cabecinha envolta com cabelos.

Esta bacia é a bacia em que ela se lavou; este pente penetrou nos nós de sua cabeleira
embaraçada. Estas conchas de gaze contiveram seus seios.

Mas o que não ouso tocar com o dedo é este espelho em que ela viu suas escoriações
ainda quente e em que talvez subsista ainda o reflexo de seus lábios molhados.